Eu sou o homem-tristeza, o carregador de pianos, aquele que verga sob o peso do querer bem, e tudo estar bem à sua volta. Carrego a melancolia, a nostalgia, o bem-querer, antes de mais de mim mesmo.
Todos nós nascemos com um sentido kármico, com um objectivo, e que por vezes nem nos damos conta. Quantas vezes descobrimos nosso destino, já tarde, para além do que é possível retomar?
Uma sensação permanente de perca, uma vontade de não estar aqui, uma vontade de estar sempre onde não podemos estar, enche o coração dos entristecidos, dos que por alguma razão têm que suportar as dores, e mágoas de outros, que não as próprias.
Eu sou o homem-tristeza, sou kármico, e digo isso porque olho para trás e sinto que toda vida servi….melhor, se serviram de mim.
Nunca trabalhei menos que 14 horas/dia desde os meus 16 anos, incluindo sábados. Uma excessiva noção de responsabilidade, de dever, me atirou para uma situação de consciência letárgico, em que noto a inutilidade de tal postura.
Não apelo à irresponsabilidade, nem à indignidade, mas tão somente ao equilíbrio, e vivência de amor partilhado, sempre vivo, muito amado.
Agora que sinto esse tempo perdido, carrego a amargura de algo de excessivo, de algo que nunca deveria ter acontecido… deixei que o amor ficasse sempre ao lado, sempre.
Se me questionar, do que tenho e sou, talvez não consiga responder, talvez nem saiba como pensar…sempre fui obrigado à máxima…. “ Tem que ser…..”!!!.
Agora, que carrego esta tristeza, e sinto essa dor aguda, que remédio? Que cura?.
Procuro, quase tive, quase….. mas só foi quase, porque nada há de pior, do que a consciência de não recuperar o tempo perdido, a sensação de esbanjamento, de gula material, procurando tudo ter, e afinal, realmente…. Não ter nada!.
Sou o homem-tristeza, essa cruz eu carrego, e tenho a certeza de que nunca mais essa crua vai sair de meus ombros, só a morte me aliviará. Tentarei, mas….
Sou como a moeda, o ser de duas sensações, de duas realidades, que nem sempre coabitaram bem pelo que pressinto.
O “tem quer ser…” de um lado, e do outro o amor…, aquele amor que eu pensava estar a exercer, a fazer, a construir…, não, como estava enganado! Tão somente, permiti que o mercantilismo, toma-se conta do meu dia-a-dia, só isso, e não foi pouco.
Por toda a minha vida, pensei amor, pensei bem-querer, pensei tudo fazer, e deixar-me levar pela sensação gostosa do amor, mas …eu, que sou amor….falhei.
Ausentei-me, passei ao lado, endureci meu peito, fiquei máquina, tornei-me executivo, teórico implacável, mas eu tinha e tenho amor, mas não me apercebi da forma como o aplicava, sempre o fazia de forma automática… afinal, eu estava enganado.
Eu descobri tarde, eu percebi tarde, e tentei ganhar tempo, e confesso que senti paixão (e ainda sinto!!!), que gostei, amei, amo, mas tão tarde…. francamente, muito tarde.
Mas não desisto, não baixo os braços, porque mesmo que apanhe a última carruagem do comboio desta vida, não deixarei de chegar ao mesmo tempo à estação que os que viajam na primeira carruagem. Eu luto!.
Sempre senti amor pelas coisas, pelo trabalho, pelas pessoas, mas nunca paixão….e agora, já é tarde. A paixão veio, e talvez por ser tarde, adquiriu um sentido muito forte, porque paixão+maturidade igual a muito amor. Eu estou assim… simplesmente assim…
Eu sou o homem-amor!.
É bom viver apaixonado, muito bom, e só quem o experimenta o pode dizer… e eu toda a minha vida, paixão, foi coisa que francamente não tive… mas agora é tarde, mas gosto.
Sempre me dei, sempre fiz de tudo pelos outros, nunca criei conflitos, nunca prejudiquei, pois sempre procurei amar, mas fi-lo de uma forma que não com o coração, porque esse nem sequer se dava conta que existia, mas sim com o sentimento de bem estar, de bem suceder.
Agora, vivendo de paixão, amando com o coração, percebo a inutilidade do bem material, do luxo sumptuoso, inútil, frio distante…e dou mais valor à sanduiche e um sumo no colo, no regaço de quem se ama, contemplando a luz, sentindo a energia que brota de um coração apaixonado.
Eu sou homem-tristeza, eu sou homem-amor.!!!.
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2 comentários:
Para ti, mil beijos, és um anjo
Olá!
Obrigada pela visita!
belo texto. Mas acho que nunca é tarde para se apaixonar, pois a paixão nos dá novo folego para a vida, nos faz sermos mais felizes, vermos as flores e as cores com mais intensidade, nos faz lembrar que Deus nos deu um coração e com eles sentimentos para que nossa vida seja sempre um livro novo.
Abraços!
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