Não sei como começar, mas poderei afirmar que quando se sofre martírio mesmo que levado ao seu extremo, por amor não é assim algo que seja insuportável, podendo até ser uma libertação.
Alguém que por razoes de afecto profundo, caminhe por momentos depressivos, pode encontrar no martírio uma forma de escape, e não devemos ser críticos quanto a isso.
Cada um interpreta a dor à sua maneira, dá-lhe o sentido que mais o alivia, e sendo assim, a dor pode ter várias expressões, de acordo com a visão da saída de cada um.
Podemos, perder o sono, não ter vontade de se alimentar, isolar-se do mundo, caminhar horas a fio só olhando o horizonte, podemos até refugiarmo-nos no álcool, sei lá até podemos ser extremistas, actuando contra a nossa vida.... sei lá, mas esse sofrimento nunca é em vão.
Penso que por ele, expiamos nossos pecados, nossos demónios, e cultivamos o amor, cravando-o fundo na nossa mente, na nossa carne.
Aos olhos de um não apaixonado, isto será talvez uma asneira, talvez estupidez até, mas diria eu, que só pensará assim um ser que nunca experimentou a paixão profunda, o amor real, o desejo até à morte do outro. Um perda dessa paixão, desse amor, é como o desabar do céu, é como o fim do mundo estar iminente, é a sensação de que nada há para além disso.
Quando isso acontece, não há nada mais que alivie a dor que o martírio, a vontade de auto-se-mutilar, de quem se quer castigar por ter aceite o "jogo" do amor e acabar perdendo.... é talvez um acto de sensibilidade, que está no mais profundo do inconsciente humano, e por isso não entendivel por quem não vive essa experiência.
Por vezes, o martírio é um grito último de amor, para que não reste duvidas, a quem parte de que é amada, e talvez a criação de um "templo" a modos que uma cápsula do tempo onde memorizamos todos os sentimentos, como que querendo torna-los eternos.
Quando se sofre, quando o martírio é extremo, aos olhos dos demais será uma tolice, mas de facto a "vitima" vê nele uma libertação, expurga todas as suas magoas. Para ele é o fim de muitos sonhos, de muitas vidas, e a sensação de que ninguém mais consegue preencher aquele lugar é muito forte.
Não façamos troça de quem sofre nestes termos, aceitemo-los, mesmo que nos pareça superfolo esse estado de alma.
Se alguém parte, se alguém se magoa, se alguém chora, não come, não dorme.....façamos um esforço para os compreender, já que esse ser vive o seu "fim do mundo", e assim tende a antecipar os factos.
Em tudo isto, nas suas formas mais suaves, ou nas suas formas mais radicais, são sempre actos de suicídio passivo, desejado, mas não percebido pelo próprio, já que a debilitação física, associada a alteração profunda psíquica, só pode ter um fim....... o afrouxamento de todos os sinais vitais de vida, e o consequente perigo de vida.
Não ridicularizemos esses seres, porque vivem uma tortura permanente.
O sentimento de rejeição é forte, e provoca uma auto estima muito em baixo, sentimo-nos perdidos, não compreendidos e com a sensação de que ninguém, ira jamais entenderá.
Resumindo, quando alguém sofre, se martiriza seja a que nível for, esta a procurar sem se dar conta, memorizar todos os factos que lhe são gratos, que lhe fazem bem, querendo eterniza-los, fazendo tudo para que o amor vivido, ora perdido perdure no tempo, a modos que um filme que se revê, e revê, mesmo sabendo ser impossível consegui-lo, e mesmo que se a morte acontecer, será gratificante, já que o amor esta atenuando a dor de uma partida.
A solidão é o medo de um martirizado, é a besta que nos persegue, é o algoz de nosso coração, cruel, sanguinario, sem compaixão, devora os sonhos, a vida, enfim.... a felicidade que se ambiciona.
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