As saudades matam, castram a felicidade, reduzem-nos a montículos falantes, deprimidos….e por isso fui visitar-te Mãe.
Estavas ali, “escondida”, sob um manto poeirento, mas estavas ali, eu vi….
Arranjei teu sitio, mãe, alindei o teu “leito” eterno, coloquei luzes, flores, refresquei.
Sabes Mãe, enquanto eu fazia isso, de cócoras, sobre o teu leito terreno, senti que me “falavas”, diria que escutei sussurros.
Uma flor aqui, mais uma outra deste lado, talvez uma outra no meio, procurei dar-te com o coração a dignidade de que sempre estiveste “vestida”, a honradez, a fé que me fizeste sentir, viver, e abraçar…
Refresquei teu “leito”, senti meu coração quente, cheiinho de amor, confortado pelo sentimento de uma vontade enorme de te “ver”.
Sabes mãe, “falei” com Deus sobre ti, mas não fiques preocupada, porque o que falei foi de amor, bem-querer, fé, perdão, e tudo o mais que me ensinaste a ser enquanto homem.
Falei de ti sim, da tua coragem, da tua religiosidade, da tua capacidade de ajudar, do teu bem fazer aos outros, do bem-querer ao próximo, do horror que sentias pela injustiça, pela ingratidão dos homens perante Ele.
Não sei se fui escutado, mas “falei” com o coração, com a força da humildade, que também me ensinaste.
Sabes mãe, pedi a Deus que te tivesse junto a Ele, te dê a vida eterna, a paz, a felicidade, as bem-aventuranças de um crente como tu mãe sempre foste.
Olhei teu “leito”, senti a emoção de um arrepio no corpo, e segurei a lágrima rebelde que se preparava para sair pela face abaixo, pois tanto sofreste mãe.
Quero que saibas mãe, que pedi também a Deus, que faça do sofrimento horrível porque passaste na hora da tua “partida”, a remissão de pecados, de coisas que possam ter ocorrido de menos bom na tua vida. Tenho fé que fui e sou escutado.
Agora que descansas, que venceste a morte, e estás desse “lado” da vida espiritual, que te confere a capacidade de ultrapassar as dificuldades de quem é ainda terreno, peço-te querida mãe, que sempre que eu te fale, pense em ti, me confortes de qualquer forma, seja ela qual for, pois eu continuo a precisar de ti, talvez ainda mais do que antes.
Orienta meus passos mãe, sopra em meu ouvido as melhores decisões para mim, “aconselha-me”, diz-me como fazer, e a quem devo fazer.
Ajuda-me mãe, não me deixes!.
Te lembro muito, a saudade me roí a alma, me tortura o espírito, e te imagino aqui, a meu lado, sorrindo para mim. Queria tanto ter-te aqui a meu lado.
Gostava tanto que me mandasses comer, comer, comer, não fosse eu ficar fraquinho….srsr, oh! Mãe, que saudade!.
Sabes mãe, tenho dormido mais um pouco, não fiques preocupada, porque estou a recuperar lentamente do meu esforço. Quero que saibas mãe, que eu faria sempre tudo que fosse possível para tu ficares mais uns tempos com nós, mas tu mãe, optaste por partir.
Deito-me pensando em ti, acordo te vendo olhando minha face, vivo o meu dia te “falando”, suplicando o conselho a cada momento, tu és a minha mãe, queres o meu bem, e por isso te procuro tanto.
Agora estas em paz, seguramente no céu, e deixa mãe que eu aproveite dessa situação privilegiada que tu experimentas, para te pedir…
-Pede a Deus que me ilumine, me perdoe os meus devaneios, fala-lhe de mim, dos meus defeitos, virtudes, projectos, anseios, como se Ele não o soubesse já, mas fala, pede a Ele, que não me abandone, e me oriente o coração para o amor, o desejo de fazer bem, e nunca odiar, aliás, como tu sempre me ensinaste a fazer.
Eu te amo mãe, e apesar da saudade que me faria correr para ti se pudesse, e não querendo ser egoísta, eu daria tudo para te ter a meu lado.
A tua coragem encheu-me o peito de paz, o terror da tua dor pela qual tu sabias ter que passar, tu mãe me ensinaste a aceitar, e não fora a tua nobreza, o teu carácter nesse momento tão mau, quando me ensinaste a resignar-me aos desígnios que Deus tinha para ti, eu teria sucumbido perante o horror de ter ver sofrer para partir.
A tua fé, força, coragem quando me incentivaste a aceitar o teu destino, o teu “caminho” falando sempre em Deus nesses momentos, mesmo quando sofrias, agonizavas, nunca senti em ti o ódio, a raiva pelo que tu mãe estavas a passar… Deus te encheu a vida, o coração, e mesmo na morte no meio de uma agonia dolorosa, sofrida, em que teu corpo se esvaziava de vida, tu sempre me deste sinais de fé, resignação, e perseverança no além, no céu, na vida para alem desta vida na terra…. Tu sabias que ias finalmente ver a Deus, tu tinhas pressa, querias ir ter com Ele.
Que Deus te tenha em paz, em descanso eterno, no esplendor da luz perpetua…….
Tu és digna disso, tu mereces, Deus te concederá seguramente esse privilégio.
Eu irei “ver-te” mais vezes, prometo, apesar de te trazer no meu coração e pensamento todos os dias…..
Um beijo minha mãe, um dia te voltarei a encontrar e então poderei abraçar-te, e dizer-te…. Te amo mãe querida!!!!.
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