Eu sou o grito...
alma penada, violada,
no desespero contido,
corpo dilacerado, sofrido...,
Dores que sinto,
as saudades suporto
num estertor
eu grito!!!.
Do que quero e acredito,
do que dizem e não aceito,
sabor amargo sinto,
nesta mágoa que
me invade o peito.
eu grito!!!.
.
Há! desespero vocal,
de entranhas profundas,
dores insanas, torturas,
porque eu sou,
de tristezas ganhas,
de amores perdidos,
em batalhas tamanhas,
eu sou o grito!!!.
.
Não quero penses mal,
onde tudo sofre a preceito,
quais estranhos sentimentos,
mesmo querendo vencer,
este mal, eu acredito,
Desventuras dos meus amores,
choros longos exaustos,
de tortuosos caminhos penantes
por onde caminhas tu,
não somos amantes?
Nas dores minhas
como que só da minha
natureza fazem parte,
serei eu aberrante se por amar,
num estrondo cair
sofrer, gritar,
do meu peito
a lágrima abundante?
eu sou o grito!!!.
.
Cansado, esgotado,
abafado de tão irritante...
não quero pensar que por gritar
te não estou a amar bastante.
Do meu clamor profundo,
numa raiva mal
disfarçada, não amada,
nem desejada,
quero que saibas
que enquanto grito
te segredo num desespero
não contido, o amor sofrido
querido de te ver abraçada!!!.
Deixa que meu peito soçobre,
vergado ao peso do cansaço
Eu sou o grito!!!.
Martirizado e vivo,
sentido, chorado, talvez maldito...!!!
num movimento tolo, de saudade,
vivo tormento, sofrimento tanto,
mais parecendo, morto-vivo.
Eu sou o grito!!!
Num gesto louco,
pensando abstracto,
como me sinto,
tonto, embriagado,
pelo teu regaço!.
A saudade mata,
um punhado de raiva
incontida, pelo amor ido,
que num choro,
a angustia abafa!.
Nesta sala vazia, onde sorri, vivia
o amor partia,
sem querer saber o que fazia!.
Eu sou o grito…!!!
Num jeito estrito,
talvez maldito!!!,
o desejo mata, a fome sacia,
num afago no leito,
num aconchego bravia,
beijar-te na tua
rebeldia!.
Oh! Segurança insana,
tanta vez propalada,
que quando comigo estas,
me fazes sentir rei
num trono-cama,
num abraço fugaz, repentina dama
que escapas à lei.
Eu sou o grito!!!.
Porque de manso eu sou,
Sofrido, amante,
carpindo dores de ti sentido,
Na tua ausência
Eu vivo a mágoa de sentir
Que mesmo gritando,
Nunca serei ouvido!.
Eu sou o grito…..
tenho dito!!!.
(prosa original de Antonio Ferreira)